quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Membro da Comissão da Verdade diz que waimiri-atroari foram chacinados

Professor Osvaldo Coelho entregando o relatório ao MPF
Documento aponta desaparecimento de dois mil integrantes do povo Waimiri-Atroari e estabelece a relação da construção da BR-174 com o massacre dos índios.

O representante da Comissão Nacional da Verdade, Gilney Viana, afirmou ontem que 2 mil índios wamiri-atroari, no Amazonas, foram “chacinados” na construção da BR-174 (Manaus-Boa Vista), na década de 1970, durante o regime militar. A declaração foi dada ontem na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) durante a entrega do relatório do Comitê da Verdade do Amazonas, que responsabiliza o governo militar pelas mortes dos indígenas, à comissão nacional e ao Ministério Público Federal (MPF).

Viana, que é assessor da ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes, disse que o relatório entregue ontem é o primeiro relacionado a tribos indígenas no País. “Há mortos, desaparecidos e torturados, o que gerou uma legião de invisíveis. Nós precisamos recuperá-los do esquecimento proposital, por isso a importância desse relatório. Chacinaram os wamiri-atroari (no Amazonas) e os cintas-largas ( em Rondônia). Nós estamos revelando essa história que estava encoberta. Vocês estão fazendo esse trabalho para mostrar que a ditadura foi terrível. Esses crimes são atribuídos a ela, mas não são reconhecidos pela Justiça até agora”, disse.
Ainda de acordo com ele, o relatório tem dois anos para ser avaliado.

Segundo o coordenador do comitê, Egydio Schwade, há documentos oficiais que autorizam o governo militar a usar armas contra os índios. “Temos um documento assinado pelo general Gentil Paes durante a construção (da BR-174), em que ele determina o uso de metralhadoras e dinamites contra os índios”, disse.

De acordo com o relatório, no dia 14 de março de 1968, o coronel Mauro Carijó, diretor do então Departamento de Estradas de Rodagem no Amazonas (DER), solicitou autorização para a compra de seis caixas de bala calibre 44. Menos de um mês depois, Otávio Kopke de Magalhães Cordeiro (que substituía temporariamente Carijó), solicitou seis revolveres Taurus calibre 38 duplo (...), duas espingardas calibre 16, 53 caixas de cartuchos calibre 16, 16 caixas de bala calibre 38 longo, 25 caixas de cartucho calibre 20, e duas caixas de bala calibre 32 simples. 

A justificativa para os pedidos de armas e munição foi a de “manter a segurança dos operários na construção da estrada”.

O relatório ainda menciona que a criação da Reserva Indígena Waimiri-Atroari, feita no governo de Emílio Médici em 1971, atendeu a interesses de grileiros.

Em nota, o Comando Militar da Amazônia (CMA) informou que não foram encontrados registros sobre atos de violência por parte de militares, na época da construção da BR-174. Sobre a atuação dos militares na obra, o CMA informou que os registros se referem somente às atividades técnicas do 6º Batalhão de Engenharia de Construção, no período de 1970 a 1977.

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